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Escrito por Luiza Schneider

Quando falamos em não violência muitas vezes não nos damos conta de como esse princípio está também diretamente relacionado com a nossa alimentação. Cada vez que sentamos à mesa nossas escolhas podem estar impactando outros seres, nossa saúde e até mesmo o planeta em que vivemos.

Durante minha vida profissional estive em centenas de fazendas industriais e abatedouros, em todos eles presenciei sofrimento e dor. Por muito tempo entendia que algozes eram os trabalhadores que tratavam os animais a chutes e socos. Ou os donos dos frigoríficos que lucravam com a sua morte. Demorei a entender que a exploração dos animais para alimentação é uma engrenagem, que gira para atender a demanda pela carne, leite e ovos.

 

A reflexão é necessária. Seria quem consome esses produtos o final dessa engrenagem ou o início dela?

Hoje mais de 70 bilhões de animais são mortos para alimentação a cada ano, um número que cresceu exponencialmente desde o século passado. A indústria, sempre visando lucro, buscou diferentes formas de atender a demanda de uma população humana cada vez maior, confinando cada vez mais animais em espaços cada vez menores, e através de seleção genética, os fazendo crescer cada vez mais e em menor tempo. Infelizmente a imagem que muitas pessoas têm quando se fala de fazenda são aquelas de décadas atrás. É um engano pensarmos que hoje esses animais vivem livres e felizes em uma escala industrial. A realidade é que galinhas vivem presas em gaiolas minúsculas e superlotadas por toda a sua vida, assim como as porcas mães confinadas nas chamadas “celas de gestação”, ali elas mal conseguem se mexer e vêem seus bebês sendo mutilados sem qualquer anestesia. Ou ainda, na indústria do leite as vacas são separadas de seus filhotes logo após o nascimento, seu leite e sua maternidade são literalmente roubados. Os bebês machos recém nascidos são mortos, assim como suas mães quando deixam de “dar lucro”.

Ao decidir não financiar esse sofrimento algumas perguntas surgem como “é possível comprar produtos de origem animal de pequenos criadores, orgânicos ou livre de gaiolas?”. De fato, algumas dessas opções significam menos sofrimento, mas novamente a reflexão é necessária. Ainda sim, em algum momento esses animais sensíveis e inteligentes serão mortos. E há como não haver violência em matar um ser que não quer morrer?

Porcos, galinhas, vacas e peixes são capazes de sentir diferentes emoções, como tristeza, angústia e ansiedade. Seu sistema nervoso extremamente complexo também processa os estímulos da dor física assim como o nosso. Tudo isso fica muito claro quando se conhece de perto o olhar triste e vazio de uma porca atrás das barras de metal da sua cela. Parece que algo foi quebrado dentro desses animais, algo que se perdeu quando a indústria os reduziu a apenas números e objetos. Ou em um cenário oposto, quando se vê a alegria no rosto daqueles que foram um dia resgatados e vivem hoje em santuários. À salvo eles começam a demonstrar suas personalidades individuais, demonstrar amor e afeto, fazem amizades com outros animais que têm afinidade, e acima de tudo, sempre nos perdoam.

Enquanto nossas escolhas alimentares não considerarem a violência contra esses seres, estaremos movimentando uma engrenagem responsável pela maior quantidade de dor e sofrimento que há na Terra.

Outro aspecto muito importante é a empatia com nosso próprio corpo. De acordo com a Academia de Nutrição e Dietética dos Estados Unidos, a alimentação sem produtos de origem animal proporciona benefícios tanto na prevenção quanto no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, pressão alta e alguns tipos de câncer. Isso porque ela tende a ser baixa em gorduras saturadas e alta em fibras e fitoquímicos (compostos que conferem cor aos alimentos e estão relacionados à prevenção de diversas doenças). Isso sem falarmos dos problemas relacionados à zoonoses, resíduos de antibióticos, pesticidas e outras toxinas que podem estar relacionados ao consumo de produtos de origem animal.

E por último, não podia deixar de falar sobre os impactos ambientais da carne. A agricultura animal é a causa principal de desmatamento, degradação da terra, poluição da água e perda da biodiversidade ao mesmo tempo em que serve como recurso intenso para sustentar a crescente população humana.

Usamos um terço das terras produtivas do planeta para pasto e grãos, que poderiam alimentar os seres humanos diretamente, mas, em vez disso, são destinados para alimentar animais ditos de consumo. A criação de animais para consumo também representa 14,5% das emissões de gases de efeito estufa induzidas pelo homem, globalmente.

A pesca industrial também ameaça a vida marinha e a nossa própria existência. De acordo com a FAO, 87% das espécies estão em risco de não conseguirem renovar suas populações. O colapso da vida marinha pela pesca excessiva têm consequências extremamente graves, pois ameaçam as “florestas marinhas”, que são responsáveis por grande parte do oxigênio da nossa atmosfera.

Se não mudarmos nossos hábitos de consumo alimentares reduzindo drasticamente o consumo de produtos de origem animal continuaremos tendo sérios problemas ambientais, climáticos e de saúde pública.

A solução é simples: a cada refeição podemos escolher alimentos que não dependam da violência contra os animais e que sejam mais saudáveis e sustentáveis. Um mundo repleto de compaixão, amor e respeito por todos os seres é possível, só depende de nós.

REFERÊNCIAS
FAOSTAT. Página Principal. ​http://www.fao.org/faostat/en/​.

Baars, B. J. (2001) “There are no known differences in brain mechanisms of consciousness between humans and other mammals”, Animal Welfare, 10, suppl. 1, pp. 31-40.

Allen, C. (2004) “Animal pain”, Noûs, 38, pp. 617-643.

Bekoff, Marc PhD, “Fish are Sentient and Emotional Beings and Clearly Feel Pain,” Psychology Today, June 19, 2014.

Brown, C, “Fish Intelligence, sentience, and ethics.,” Animal Cognition, vol.18, no. 1, 1-17. http://animalstudiesrepository.org/cgi/viewcontent.cgi?article=1074&context=acwp_asie.

Academia de Nutrição e Dietética dos Estados Unidos.Acessado em: https://www.eatrightpro.org/-/media/eatrightpro-files/practice/position-and-practice-papers/position-papers/vegetarian-diet.pdf.

FAO (2012). The State of the World Fisheries and Aquaculture. Rome: FAO.

Food and Agriculture Organization of the United Nations, Livestock and Landscapes (FAO, 2012), 1.

“Key Facts and Findings,” Food and Agriculture Organization of the United Nations, accessed March 22, 2019, http://www.fao.org/news/story/en/item/197623/icode/; P.J. Gerber et al.,Tackling Climate Change Through Livestock: A Global Assessment of Emissions and Mitigation Opportunities (Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations, 2013), 15.

Bindoff, N. L., Cheung, W. W. L., Kairo, J. G., Arístegui, J., Guinder, V. A., Hallberg, R., et al. (2019). “Changing ocean, marine ecosystems, and dependent communities,” in IPCC Special Report on the Ocean and Cryosphere in a Changing Climate, eds H.-O. Pörtner, D. C. Roberts, V. Masson-Delmotte, P. Zhai, M. Tignor, E. Poloczanska, et al. (Geneva: Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC)).

Nada beneficiará tanto a saúde humana e aumentará as chances de sobrevivência da vida na terra quanto a evolução para uma dieta vegetariana. A ordem de vida vegetariana, por seus efeitos físicos, influenciará o temperamento dos homens de uma tal maneira que melhorará em muito o destino da humanidade.

Atribuido a Albert Einstein

Todos os textos postados neste blog são de inteira responsabilidade dos seus autores.

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