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Escrito por Caio Kim

Ahiṃsā é um termo em sânscrito que muito se popularizou entre quem se dedica ao yoga. Este termo é citado nos antigos versos que organizaram o yoga e compuseram o que se chama de Yoga Sūtras, atribuído à figura, talvez mitológica ou não, de Patañjali.
Em determinado verso deste compilado são contempladas as regras de conduta de um (a) yogue para com o mundo e consigo (parece-me que essas condutas aparecem de forma muito parecida em ensinamentos jainistas anteriores ao Yoga Sūtras). Das dez condutas, a primeira delas é ahiṃsā que, em seu sentido literal, significa “não violência”.

Não precisa ir muito a fundo na prática de yoga para chegar a este termo que, como foi dito, é bem divulgado e um dos fatores que também contribuiu, além do ensinamento clássico, foi a aplicação deste termo em uma estratégia de combate sem violência contra os invasores britânicos, tática associada à Gandhi. As discussões sobre se este termo foi ou não corretamente aplicado neste caso específico, em acordo com os ensinamentos do yoga, não é o objetivo deste post. O intuito é investigar, primeiramente a nível de indivíduo, o que ahiṃsā significa.

Há imprecisos milhões de anos que a violência existe no mundo, em inúmeras situações como: para proteger a cria, para se estabelecer como alfa em uma população, mostrar poder, defender território, às vezes, até para se alimentar!

O ser humano também perpetua formas violentas de garantir esses interesses primitivos e a cada ano que passa descobre novas formas de empregar atos violentos, trabalhando em prol da competitividade, diversão, etc. Todos esses motivos são situações externas que, como o yoga aproxima, refletem o meio interno.

Visto essas inúmeras situações de violência, algumas boas ferramentas continuam surgindo para o indivíduo contornar esses momentos, com o objetivo de conseguir agir sem violência. 

No entanto, a sensação é que cada vez mais a violência aprende formas de continuar sendo indiretamente ou explicitamente invasiva, propagando o sofrimento. As ferramentas podem funcionar em alguns momentos, porém, o que se percebe é que a história da humanidade é, também, permeada por guerras, injustiças, abusos, etc.
O ponto que quero chegar se desenrola a partir daqui: não parecem estar tendo um profundo impacto essas técnicas que os diferentes coletivos propõem para que as pessoas que fazem parte possam seguir em acordo com as condutas éticas sugeridas. E tampouco textos, como este, e discursos que apontam as falhas e propõem soluções para a violência parecem estar gerando este impacto (mas ainda assim continua-se acreditando em um mundo mais compassivo).

E o yoga (enquanto técnica, textos, discursos) parece estar incluso neste grupo também.

Realizar uma prática de āsanas, respirar melhor, sem dúvida gera bem-estar e uma maior sensação de integridade, quando feitos de forma intensa, de forma alguma isso cai em descrédito em minha forma de abordar.

Porém, a proposta do yoga clássico de uma mente sem distrações, não é sinônimo de bem-estar. Claro, sentir-se bem pode também gerar bons impactos no mundo, mas cada instante desafia o ser humano em uma emoção e inevitavelmente o bem-estar cessa em algum momento. 

    O que dará lugar será algo desconhecido e, se não vigiado, poderá tomar conta de uma forma violenta, autoritária sobre a imensidão de possibilidades.

    Se você segue algumas dessas condutas recomendadas pelas diferentes escolas, religiões, seitas, etc, encher de regras e técnicas vai ser suficiente para preencher o vazio que uma violência existente pode deixar? E, admitir que essa violência existe, é algo tão escandaloso assim?

    Como não se distrair com algo que nem se sabe o que é direito, nem se teve a coragem de perceber como atua? Enquanto se chega com os planos 1 a 1000 de não ser violento, vem a vida e apresenta agora o plano 1001, daqui um segundo o plano 1001a, depois o 1001b. E o que fazer com todo este arsenal se o que está sendo apresentado não está sendo reconhecido?

    E o que acontece depois de admitir que essa violência existe? Sim, sou uma pessoa violenta, assim como tantas outras coisas e agora, o que acontece daqui pra frente? 

    Continue lendo o texto aqui

    Vou para o inferno? (a intenção não é provocar no sentido ruim, por favor, permita a reflexão), a violência desaparece? Ela tem que desaparecer? Ela deixa de assumir o controle? Ela toma o controle de vez?
    Uma vez ouvi que o que gera o conflito, a violência, assim, de forma bem interna, é a separação que fazemos entre o que somos e o que achamos que somos. Ora, só com dois lados é que a batalha pode acontecer! Parece-me que tornar a violência algo que não eu é um prato cheio para um conflito interno, negando-se um aspecto, torturando este aspecto para que não dê as caras. Sabendo disso, como fazer diferente?
    O texto não tem autoridade para trazer um ponto final sobre isso, até porque explorar essa dimensão de ir além do que me disseram o que deveria ser, é um campo vasto e novo, mas percebi um engatinhar e vim aqui compartilhar contigo.
    Construindo um resumo parte por parte do que foi dito:
    A letra “a” em frente da palavra ahiṃsā indica uma negação ao que vem a seguir, que é a palavra violência (hiṃsā). É uma intenção de quem está dedicado(a) à prática do yoga não propagar a violência, certo? Porém, não ser violento não é o mesmo que dizer que a violência não existe dentro de cada pessoa. Então, negar completamente a violência dentro de si, já significa estar sendo violento com uma parte que é você.
    Que sua capacidade de observação te guie além das limitações deste texto.
    Hari Om!

    Onde o coração está cheio de bondade que não busca lesão para outro, seja em ato ou pensamento ou desejo, esse amor completo cria uma atmosfera de harmonia, cujo poder benigno toca em cura todos os que vêm dentro de sua influência. A paz no coração irradia a paz para outros corações, ainda mais certamente do que a contenção gera a contenção.

    Dito por Patañjali

    Todos os textos postados neste blog são de inteira responsabilidade dos seus autores.

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