Escrito por Helder Araujo
Os Rāgas são formas ancestrais de interpretações da música clássica indiana.
Descritas nos Vedas como combinações melódicas e que proporcionam para o ser humano um canal para o estado pleno mental e corporal facilitam o deslumbre e inspirações Divinas.
Existem Rāgas para todos os momentos do dia, manhã, tarde, noite e madrugada e também para as divindades; e assim ela entra em nossos estados emocionais trazendo temperos sonoros com tantas sutilezas e coloridos que são capazes de nos transportar para estados profundos da consciência.
São muito profundos seus estudos e mais ainda suas interpretações, pois ela exige uma vida toda para se sentir todas as seus nuances.
Existem centenas de Rāgas e cada uma delas com suas particularidades, escalas (Āroha), notas importantes (Vādī), frases que trazem sentimentos, ornamentos e sequências melódicas específicas (Pakar).
Veja e escute abaixo o lindo trabalho de Helder Araújo
Toda esta tradição dos Rāgas é transmitida através do Paraṃparā (sucessão oral) do Guru (professor) para o Śiṣya (discípulo).
Alāp (interpretação melódica) é a forma sublime de combinações melódicas e é passada oralmente há milhares de anos pois cada Rāga tem suas nuances, coloridos e sentimentos específicos. No decorrer dos estudos vamos sentindo em todas as suas sutilezas e vibrações essas nuances e as vamos materializando através dos sons, assim as transbordando para o todo em nossa volta.
Nāda Yoga (Yoga dos Sons)
A prática do OM verbal ou mentalmente, assim como o ato de escutá-lo em estado de concentração, faz vibrar todos os centros energéticos do nosso corpo sutil (Cakras), limpando as veias astrais Nāḍīs (canais de corpos sutis, onde flui a energia vital), preparando assim o despertar da energia latente (Kuṇḍalini).
O processo do Sādhana (prática espiritual) dentro do Nāda Yoga consiste em reconhecer e realizar essa vibração sonora tanto interior quanto exteriormente.
Os sons podem ser classificados como Āhat (tudo que ouvimos do externo) ou Anāhat (aquilo que não ouvimos pois são vibrações energéticas sutis internas).
São essenciais para essa compreensão as práticas e conhecimento dos sons (Rāgas) e práticas de yoga e Prāṇāyāmas, que ajudarão no processo de aperfeiçoamento espiritual e meditação.
Grandes músicos e yogis da Índia são capazes de promover sutis vibrações através da compreensão correta das ondas sonoras (Nāda).
Śrī Tansen (músico da corte do período Mughal – Índia), conseguia através dos Rāgas trazer o calor (fogo) e também o refresco através de suas divinas interpretações vocais.
Nāda é o som primordial e inspirado na criação (Brahman) e Sat-Saṅkalpa (intenção do ser), uma vibração ou Spandana (movimento, pulsação). Nāda é o aspecto mais sutil de Śabda (som da voz).
O Nāda é o primeiro estágio da emanação dos Mantras. Nāda existem em todos os Bīja-Mantra (sons sagrados de determinada energia). Nāda é o aspecto da Śakti.
Swami Sivananda
Trazia chuva através do Rāga Magah e fogo através do Rāga Dīpak.
Śrī Tyagaraja, grande músico, compositor e yogi do sul da Índia dizia que a música não é um alimento destinado apenas aos sentidos, porém à alma.
A música eleva nossas mentes inquietantes ao encontro do sublime e do divino (Samādhi).
As práticas dos Rāgas e Mantras podem trazer inúmeros benefícios para nosso corpo, mente e alma pois sua essência (Rāgas) é vibracional e sua prática traz equilíbrio aos Cakras e dessa forma promove o estado de autocura.
De certa forma todos nós praticamos Nāda Yoga em nosso dia a dia e em nossas práticas yogis.
Através de nossas vozes quando falamos de maneira suave e às vezes forte, dando coloridos e sensações nas vocalizações (Śabda), através das canções devocionais e através dos mantras.
Quanto mais vamos evoluindo na espiritualidade, vamos nos aperfeiçoando na energia vibracional e a energia dos sons começa a penetrar em nossos estados, promovendo estados de realizações.
Sons da Índia 🇮🇳Conhecimento vs Mercado
Os Rāgas são combinações entre notas músicas que trazem em seus ornamentos profundas e sutis combinações recheadas de meends e gamak e de profunda introspecção, pois a essência dos Rāgas (música clássica indiana) é promover um estado de quietude, levando a um estado emocional pleno e leve, trazendo assim aperfeiçoamentos da compreensão do viver .
Rāga e todas as tradições indianas vieram da mesma fonte do saber e evoluíram assim como todas as tradições indianas. Não há separação entre Rāga, mantra e filosofia para os indianos, e o ocidente por algumas vezes simplificar exageradamente a tradição consegue deturpar com muita facilidade as compreensões e reflexões originais da ancestralidade!
Em uma sociedade rasa (pequena) trazer conceitos e reflexões adaptadas propicia um “produto fácil de se vender”, pois mesmo os que divulgam tais produtos, muitas vezes são desinformados.
Em tempos onde as escritas e as palavras ganham força, as práticas profundas podem tornar-se totalmente desinformadas, e nas tradições indianas, seja qual for, a oralidade do aprendizado é essencial para os aprimoramentos (Paraṃparā).
“
A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.
Dito por Arthur Schopenhauer
Todos os textos postados neste blog são de inteira responsabilidade dos seus autores.
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