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Mestre indiano estudando manuscritos antigos - fundamentos filosóficos e históricos do Ayurveda

Um estudo sobre as raízes históricas e filosóficas do Ayurveda, mostrando como o Ayurveda Itihāsa e o Padārtha Vijñāna estruturam o pensamento médico indiano.

Introdução, fundamentos filosóficos e históricos do Ayurveda

Este artigo apresenta os fundamentos filosóficos e históricos do Ayurveda, explorando como essa tradição organiza o conhecimento e a prática a partir de princípios que permanecem atuais.

O Āyurveda constitui um dos sistemas de conhecimento mais antigos ainda em prática. Sua base não se restringe à terapêutica; envolve uma visão de mundo que integra reflexão filosófica e observação da natureza em diálogo constante com a experiência humana e da vida no universo. Por essa razão, estudá-lo requer ultrapassar o domínio das técnicas e compreender os princípios que lhe dão forma e coerência.

O campo de Āyurveda Itihāsa permite reconhecer a continuidade da transmissão desse saber ao longo dos séculos, identificando as linhagens que o preservaram e transformaram. Já Padārtha Vijñāna apresenta as categorias ontológicas e epistemológicas que estruturam o raciocínio ayurvédico e orientam a forma de interpretar os fenômenos. Esses dois eixos, histórico e filosófico, sustentam a estrutura do conhecimento médico indiano e constituem os fundamentos filosóficos e históricos do Ayurveda que este estudo procura aprofundar.

Este artigo examina esses fundamentos a partir das fontes tradicionais e das suas relações com os sistemas filosóficos indianos. O objetivo é demonstrar que compreender o Āyurveda Itihāsa e o Padārtha Vijñāna não apenas amplia o entendimento teórico, mas modifica a maneira de praticar e de pensar a medicina ayurvédica em sua totalidade.

Ayurveda Itihāsa e os fundamentos históricos do Ayurveda

O termo Itihāsa é tradicionalmente interpretado como “assim foi” (iti-ha-āsa), expressão formada por partículas que indicam algo afirmado ou transmitido como verdadeiro. No uso clássico, designa narrativas e registros que preservam acontecimentos considerados dignos de memória e que carregam autoridade pedagógica. No contexto do Āyurveda, o Itihāsa refere-se ao conjunto de relatos e textos que conservam a transmissão do conhecimento e asseguram sua legitimidade ao longo do tempo, No contexto do Āyurveda, o Itihāsa refere-se ao conjunto de relatos e textos que conservam a transmissão do conhecimento e asseguram sua legitimidade ao longo do tempo, constituindo o alicerce dos fundamentos filosóficos e históricos do Ayurveda.

Nos hinos védicos, presentes no Ṛg Veda, no Yajur Veda, no Sāma Veda e com especial ênfase no Atharva Veda, encontram-se referências a práticas de cura, à força vital do fogo (agni), ao uso ritual e terapêutico das plantas e à noção de que a saúde depende da harmonia entre o corpo e a ordem cósmica (ṛta). Esses registros não constituem ainda um sistema médico formal, mas revelam a base conceitual que mais tarde seria desenvolvida como Āyurveda. Neles já se delineia a tentativa de compreender os processos vitais a partir das relações entre natureza e existência, articulando saber empírico e reflexão sobre as condições que sustentam a vida.

A consolidação do Āyurveda ocorreu por meio de diferentes linhagens de transmissão. Uma delas narra a assembleia dos sábios (ṛṣis) que enviaram Bharadvāja para aprender com Indra a ciência da vida (āyus vidyā). Dessa linhagem surgiu a escola de Ātreya, posteriormente sistematizada no compêndio conhecido como Caraka Saṃhitā, referência fundamental para a medicina interna e para o pensamento filosófico ayurvédico.

Outra linhagem, associada ao Suśruta Saṃhitā, preserva a tradição cirúrgica originada no rei de Kāśī, Dhanvantari, reconhecido como mestre humano e transmissor do saber médico. É essencial distinguir essa figura histórica da representação mítica de Dhanvantari, surgida no episódio do batimento do oceano de leite (samudra manthana). A versão mítica confere caráter sagrado ao conhecimento, enquanto o rei de Kāśī representa a continuidade prática e pedagógica da tradição cirúrgica.

Há ainda a linhagem vinculada a Kaśyapa, cujo compêndio (Kaśyapa Saṃhitā) é dedicado à pediatria e à saúde materna, demonstrando o grau de especialização que o sistema alcançou desde o início do seu desenvolvimento.

Essas linhagens coexistem e se complementam, formando o que hoje se reconhece como Āyurveda clássico. Cada compêndio desempenhou papel distinto: o Caraka Saṃhitā consolidou a base clínica, o Suśruta Saṃhitā aprofundou a anatomia e a cirurgia, o Kaśyapa Saṃhitā sistematizou os conhecimentos sobre gestação e infância, e os tratados de Vāgbhaṭa (Aṣṭāṅga Hṛdaya e Aṣṭāṅga Saṃgraha) sintetizaram os oito ramos da medicina em linguagem acessível para o ensino. Nenhum desses textos rompeu com a oralidade, que permaneceu como meio essencial de transmissão; ao contrário, reforçaram-na ao preservar o espírito de comentário e interpretação contínua.

Além dos grandes Saṃhitās, há um vasto conjunto de obras que consolidam e ampliam o corpus do Āyurveda. Entre elas destacam-se textos como o Mādhava Nidāna, de Mādhavakara, dedicado ao estudo sistemático das doenças e de seus sinais diagnósticos; o Śārṅgadhara Saṃhitā, que aprofunda aspectos farmacológicos e metodológicos da prática terapêutica; e o Bhāva Prakāśa, de Bhāvamiśra, importante síntese do conhecimento médico medieval, combinando observação empírica e fidelidade à tradição clássica. A literatura dos Nighaṇṭus, dicionários e glossários de substâncias medicinais, também ocupa papel central nesse conjunto. Obras como o Dhanvantari Nighaṇṭu, o Rāja Nighaṇṭu e o Bhāvaprakāśa Nighaṇṭu registram as propriedades das plantas, minerais e produtos animais, oferecendo descrições detalhadas que orientaram o uso terapêutico por gerações. Essa produção revela a vitalidade do Āyurveda como tradição textual em constante expansão, sustentada pela continuidade da observação e da prática, e reafirma os fundamentos filosóficos e históricos do Ayurveda como eixo de permanência e legitimidade da tradição.

Ignorar esses fundamentos é o que reduz o Āyurveda a um catálogo de métodos terapêuticos sem relação com o sistema de pensamento que lhes dá sentido. Quando o ensino se ancora na filosofia e na história, o terapeuta deixa de repetir fórmulas e passa a compreender o que sustenta cada decisão. A prática então se torna extensão do raciocínio, e não sua substituição.

Padārtha Vijñāna | categorias fundamentais do conhecimento ayurvédico

A expressão Padārtha Vijñāna une dois conceitos centrais do pensamento indiano: padārtha, “aquilo que pode ser nomeado e conhecido”, e vijñāna, “conhecimento preciso e discernido”. Essa disciplina investiga as entidades que compõem a realidade e o modo como são apreendidas pelos instrumentos do conhecimento. Não se trata apenas de descrever o que existe, mas de compreender os fundamentos filosóficos e históricos do Ayurveda, que orientam a maneira como o saber é constituído e praticado.

O Āyurveda adota essa estrutura conceitual em diálogo com os seis sistemas filosóficos da tradição védica (ṣaḍ-darśanas): Nyāya, Vaiśeṣika, Sāṃkhya, Yoga, Pūrva-Mīmāṃsā e Vedānta. Cada um deles contribui para a formação do pensamento médico. Nyāya estabelece os critérios da lógica e da validação do conhecimento. Vaiśeṣika define as categorias que organizam a realidade material. Sāṃkhya explica a composição do cosmos e do ser a partir dos princípios de manifestação (tattvas). Yoga apresenta métodos de observação e disciplina mental, aplicáveis à clínica e à prática pessoal. Mīmāṃsā sustenta a importância da ação correta (dharma) e da relação entre causa e efeito. Vedānta amplia a reflexão sobre consciência e realidade última, oferecendo a perspectiva que integra todas as demais.

No Āyurveda, o Padārtha Vijñāna fornece o alicerce conceitual do raciocínio médico. Ele estabelece as categorias que explicam tanto a estrutura do mundo quanto a forma como o conhecimento se dá. Essas categorias, chamadas ṣaḍ-padārthas, são seis: dravya (substância), guṇa (qualidade), karma (ação), sāmānya (generalidade), viśeṣa(particularidade) e samavāya (inerência). Cada uma expressa um aspecto essencial da realidade. Dravya indica aquilo que existe como suporte material; guṇa descreve as propriedades que permitem reconhecer diferenças; karma refere-se ao movimento e à transformação; sāmānya e viśeṣa orientam a compreensão das semelhanças e distinções; samavāya explica o vínculo que mantém substância, qualidade e ação em relação constante. Ao estudar essas categorias, o praticante aprende a pensar de modo estruturado e a interpretar os fenômenos do corpo e da natureza como parte de um mesmo princípio de organização.

O conceito de padārtha inclui o ato de nomear. Nomear algo é reconhecê-lo como uma realidade que pode ser conhecida e descrita. Na tradição indiana, a nomeação não é simples convenção linguística: ela participa do próprio processo de conhecer. A linguagem não apenas comunica o mundo, mas o torna inteligível. Ao nomear uma substância, uma qualidade ou uma ação, o pensamento organiza a experiência e estabelece vínculos entre percepção e entendimento. Essa visão sustenta a metodologia ayurvédica, em que cada termo – doṣa, dhātu, agni, mala – indica entidades que só adquirem pleno sentido dentro de uma rede de relações. Assim, o uso preciso dos nomes é parte do conhecimento. Ele orienta a observação clínica e define a coerência do raciocínio, reafirmando os fundamentos filosóficos e históricos do Āyurvedacomo referência para a transmissão e a prática.

O estudo de Padārtha Vijñāna é parte formativa essencial do aprendizado ayurvédico. Ele ensina a pensar com base em princípios, e não apenas em experiências sensíveis. Ao compreender as categorias que sustentam o raciocínio, o praticante adquire discernimento e passa a relacionar fenômenos de modo sistemático. Esse exercício intelectual protege o Āyurveda de reduções empíricas e garante sua coerência como ciência da vida.

Darśanas e os fundamentos filosóficos do Ayurveda

O Āyurveda se desenvolve dentro do mesmo horizonte intelectual que deu origem aos seis Darśanas védicos. A palavra Darśana deriva da raiz sânscrita dṛś, “ver”, termo que designa não apenas o ato de perceber, mas a capacidade de compreender a realidade em sua estrutura essencial. Cada Darśana constitui uma forma de visão do real, um sistema que organiza a experiência e define critérios de validade para o conhecimento. Esses modos de pensar não são concorrentes; expressam perspectivas complementares que, em diálogo constante, formaram o corpo conceitual que sustenta o Ayurveda e seus fundamentos filosóficos e históricos.

O Āyurveda integra os Darśanas em sua própria estrutura de pensamento. As escolas filosóficas védicas fornecem o vocabulário conceitual e os métodos de raciocínio que sustentam a análise dos fenômenos vitais. Seus princípios epistemológicos orientam a forma de perceber a vida e o modo como as mudanças se manifestam no corpo e na mente em relação ao meio em que o indivíduo existe. Essa base compartilhada faz do Āyurveda um sistema terapêutico coerente, em que a reflexão e a aplicabilidade permanecem ligadas como partes de um mesmo processo de conhecimento.

Os ṣaḍ-darśanasNyāya, Vaiśeṣika, Sāṃkhya, Yoga, Pūrva-Mīmāṃsā e Vedānta – constituem a base filosófica da tradição védica. Cada um desses sistemas propõe um modo próprio de compreender a existência e de orientar a ação humana de acordo com sua visão de mundo. Em conjunto, esses sistemas constituem o alicerce conceitual da tradição filosófica indiana. O Āyurveda surge nesse ambiente intelectual e absorve dele a linguagem e o modo de pensar que unem reflexão e prática voltadas à continuidade da vida.

Essas escolas não são compartimentos isolados, mas linhas de reflexão que se entrelaçam ao longo da história. O Āyurveda partilha com essas escolas o interesse em compreender o conhecimento e a ação humana como expressões de uma mesma ordem que sustenta a vida. O resultado desse diálogo é um sistema de saber que interpreta os processos vitais com base em princípios filosóficos sólidos, sem romper com a experiência empírica.

O Sāṃkhya explica o surgimento da realidade a partir da interação entre puruṣa e prakṛti. Sua doutrina dos tattvas fornece ao Āyurveda um modelo para entender a constituição da existência e os mecanismos de manifestação da vida. O Yoga, em continuidade com o Sāṃkhya, propõe o cultivo da atenção e o domínio dos estados mentais como instrumentos de conhecimento direto. Essa perspectiva é essencial para o exercício terapêutico, pois a observação precisa do corpo e da mente requer estabilidade perceptiva.

A Pūrva-Mīmāṃsā destaca o valor da ação correta (dharma) e o vínculo entre conduta e resultado. O Āyurveda compartilha essa visão ao afirmar que saúde e desequilíbrio refletem modos de agir e escolher. Já o Vedānta investiga a natureza da consciência e a identidade entre vida individual e totalidade, oferecendo a dimensão metafísica que completa a compreensão da experiência humana.

A presença dos Darśanas no pensamento ayurvédico não deve ser entendida como coleção de doutrinas. Ela constitui um diálogo contínuo entre especulação e prática, no qual a terapêutica se torna expressão concreta do conhecimento. O resultado é um sistema que observa o corpo em continuidade com a mente e entende a vitalidade como expressão de uma ordem que articula conhecimento e ação.

Fundamentos filosóficos e históricos do Ayurveda na atualidade

O interesse crescente pelo Āyurveda em contextos contemporâneos ampliou o acesso ao conhecimento, mas também provocou dispersão conceitual. Em muitos processos de ensino, o sistema é apresentado como um conjunto de métodos terapêuticos desvinculado de seus fundamentos filosóficos e de sua base textual. Essa fragmentação compromete a coerência da prática, pois o ato terapêutico se afasta do raciocínio que o legitima. O estudo do Āyurveda Itihāsa restitui a compreensão da linhagem e do método, enquanto o Padārtha Vijñāna oferece a estrutura necessária para pensar o processo vital em sua totalidade. Somente a integração entre história e filosofia preserva os fundamentos filosóficos e históricos do Ayurveda e garante continuidade ao seu sentido original.

A ausência desses dois eixos produz conhecimento de superfície. O praticante repete descrições e nomes, mas não domina o processo de análise que conduz a uma interpretação precisa. A observação dos doṣas, dos dhātus, dos agni, dos malās, deixa de dialogar com as categorias de dravya, guṇa e karma. O resultado é a adoção de protocolos isolados, eficazes apenas em aparência. A coerência do sistema se perde quando a formação ignora como o estudo textual orienta o método e dá consistência à prática.

Compreender processos é mais do que aplicar uma sequência de procedimentos. A técnica descreve o que se faz; o processo revela por que e em que condições algo ocorre. Quando o raciocínio se apoia em categorias como dravya e guṇa, o terapeuta identifica o princípio que organiza o fenômeno, não apenas a manifestação visível. A decisão terapêutica deixa de ser reação a um sintoma e passa a ser resposta a uma lógica de transformação. Essa mudança de perspectiva é o que caracteriza a maturidade clínica dentro da tradição ayurvédica.

O estudo de Āyurveda Itihāsa devolve profundidade ao aprendizado. Ele permite compreender a trajetória do conhecimento desde sua transmissão inicial até a forma que assumiu nos tratados clássicos e como chegou até hoje. O estudante passa a reconhecer a origem dos ensinamentos e o modo como cada obra se inseriu na tradição.

Essa compreensão orienta a leitura e dá estabilidade ao estudo. 

Padārtha Vijñāna, por sua vez, desenvolve a capacidade de organizar o pensamento. Ensina a reconhecer correspondências e distinções que atravessam o corpo, além dos modos de ocorrência observáveis no ambiente. O raciocínio se torna estruturado porque segue critérios próprios da tradição, e não preferências pessoais ou modismos pedagógicos.

Preservar filosofia e história é responsabilidade institucional. Escolas e professores que se propõem a formar terapeutas devem transmitir o Āyurveda com rigor textual e respeito às fontes, mantendo clareza metodológica em todo o processo de ensino. Isso supõe um processo formativo sustentado por orientação rigorosa, em que o aprendizado se desenvolve através de critérios vinculantes à tradição que os legitima. A fidelidade ao método protege o campo e garante que o aprendizado não se degrade em improviso.

A atualidade do Āyurveda depende menos da adaptação superficial a novos públicos do que da continuidade de seu pensamento. Quando a tradição é estudada de modo íntegro, ela permanece viva porque continua capaz de interpretar a experiência humana.

O que se renova é o contexto; o fundamento, não.

Conclusão

O Āyurveda se define não apenas por procedimentos, mas pela forma de pensamento que lhes dá coerência. Seu alcance depende da preservação das categorias que sustentam o raciocínio e da continuidade das linhagens responsáveis pela transmissão. O estudo do Padārtha Vijñāna forma a base conceitual do discernimento, enquanto o Āyurveda Itihāsa insere o aprendiz na história viva de uma tradição que legitima a prática e confere sentido à experiência terapêutica.

Quando esses fundamentos são ignorados, o Āyurveda se reduz a um repertório de técnicas desconectadas de seu sistema de pensamento. A formação que se ancora na filosofia e na história restitui ao terapeuta a capacidade de compreender antes de aplicar, transformando a prática em desdobramento do raciocínio.

A preservação do Āyurveda requer formação sustentada por estudo rigoroso e pela consciência do papel da tradição no ensino contemporâneo. Sua vitalidade não depende da adaptação a modas passageiras, mas da continuidade dos fundamentos filosóficos e históricos do Ayurveda que o tornam reconhecível como ciência da vida, um campo em que a reflexão dá forma à ação e o saber permanece orientado pela experiência humana.

A tradição não é o culto das cinzas,
mas a preservação do fogo.” 

Gustav Mahler

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